HISTÓRIA DO FIO, QUE UM DIA SE FEZ RIO

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O embate foi brutal. De repente, o fiozinho de água que deslizava, alegremente, encosta abaixo, sentiu-se estilhaçar em mil gotinhas. De tanta euforia, não reparara na linha de rocha que, daquele sítio fizera morada.
Doloridas, as gotinhas reagruparam-se, pesarosamente, numa pequena poça de água. E agora? O que fazer? Trepar a encosta de volta, estava fora de questão. Como superar a linha de rocha?
- Encham-se! – bradou a voz de quem parecia ler pensamentos. – Encham-se!
Só quando olharam para cima, as gotinhas se aperceberam da libelinha, pousada na linha de rocha.
- Enchemo-nos de quê? Como e para quê? – perguntaram, intrigadas, as gotinhas, a uma só voz.
- Se querem passar a linha de rocha, têm de atingir a altura necessária para a ultrapassar.
- Nisso já pensámos nós. Mas como?
- É muito mais fácil do que pensam. Basta que se encham da alegria e orgulho de ser quem são. Da coragem que já tiveram, para superar os desafios que já superaram. Do propósito e vontade que têm, de oferecer a vossa frescura aos que têm sede, o vosso suporte aos que vos aguardam para poderem navegar, o vosso ventre aos que em vós anseiam mergulhar. Encham-se!

E porque não viam outra saída e porque tudo aquilo fazia, curiosamente, todo o sentido, as gotinhas começaram a encher-se, encher-se, encher-se. De Alegria. De Coragem. De Propósito.
E sem que dessem conta, estavam a ultrapassar, sem outro esforço que não fosse o de se encherem, a linha de rocha. Entusiasmadas, continuaram enchendo-se e rolando encosta abaixo reparando, que aquilo que antes tinham visto como temíveis penedos, não passavam, agora, de pedrinhas que faziam cócegas. E assim, roçando-se nas pedras, seguiram a sua viagem. Mais se enchendo! Mais se enchendo! Mais se enchendo!
- Mãe!!! Mãe!!! Olha um rio - ouviram uma criança dizer.
- Pois é querido. Que lindo e grande que é o rio.
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E pronto. Aqui fica a história, que um dia alguém voltará a contar, de como um pequeno fio se fez rio.

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