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Pelo Caminho do Suave Milagre

O lobo mau e o capuchinho vermelho



Já fazia mais de uma semana, que o solitário lobo vagueava pela floresta, em busca de alimento. Tinha tido a oportunidade de apanhar um coelhito, mas a idade já não lhe dava pulmão para grandes correrias. E assim se ficou por uns ressequidos gafanhotos e pouco mais. E, até esses tinham mostrado muito pouca vontade em colaborar ...
Eis que de repente, lhe pareceu ouvir um barulho ao longe e logo se colocou à espreita, atrás do arbusto na beira do caminho. E, juntamente com o barulho, o vento trouxe-lhe um cheiro gostoso que, imediatamente, o fez viajar para um tempo em que ... Um tempo em que ...
Um tempo em que era grande esta floresta. Onde a sua alcateia prosperava pela fartura de caça. Que tempo! Que tempo!
E depois... Depois vieram os homens! Com machados e fogo destruíram metade da floresta e passaram a caçar os animais da floresta. Muitos lobos morreram - incluindo o seu pai, e a fome começou a apertar. Em desespero, por vezes a alcateia, atacava os rebanhos dos homens, que retribuíam com batidas. E mais lobos foram morrendo, até que o líder reuniu a alcateia, para tomarem a decisão de continuar ali ou ir procurar outras paragens. Esfomeada e sem grande esperança no futuro, a alcateia decidiu que partiriam. Alguma Terra Prometida os aguardaria, porque dali já nada de melhor se poderia esperar.
Porém a mãe do nosso lobo recusou a partir. Alegou que tinha sido feliz ali, queria ficar junto do seu companheiro falecido e já não tinha idade para viajar. Apesar da insistência, permaneceu na sua posição e ficou depois da alcateia partir. E o filho também tomou uma decisão. Ficaria com a mãe até ao final dos seus dias e depois iria juntar-se à alcateia.
E os anos passaram e a mãe loba morreu.E os anos também passaram para o lobo que, após a morte da mãe, sentiu que já era tarde para ele. Não sabia para onde fora a alcateia e já não se sentia em condições de vaguear à sua procura. Ficaria só, mas também não tinha sido sempre esta a sua casa e onde, afinal, acabara por ficar a sua família? E, alguma coisa se haveria de arranjar...
E, sobressaltado, apercebe-se que, mesmo na frente do arbusto onde se escondia, passa uma menina de capuchinho vermelho, cantarolando com um bem cheiroso cesto na mão ...
Rogério Duarte/2018
E onde fica o Amor?






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